NOV 25, 2021
Maria Tereza Gomes - Época Negócios. Confira matéria original aqui.
Enquanto envelhece a passos largos, Brasil fica para trás em investimento e preparação para ter uma população mais longeva
Brasil está atrasado na corrida populacional, enquanto países ricos já estão investindo seus dólares, libras e euros em produtos e serviços para o envelhecimento (Foto: Reprodução/Facebook)
Eu sempre procurei enxergar a longevidade pelo lado positivo, o de que estamos vivendo mais - e melhor - que os nossos antepassados. Eu fiz minha estreia nesta coluna, em outubro do ano passado, afirmando que “aos 55 atingi a expectativa de vida esperada quando nasci”. Pouco mais de um ano e 57 colunas depois, estou descobrindo que ao fazer isso, no entanto, deixei de lado uma visão crítica de como o nosso país está enfrentando o fenômeno global do envelhecimento da população.
Cheguei a essa conclusão ao ler o livro “Economia da longevidade - O envelhecimento populacional muito além da previdência” (Editora 106), escrito pelo jornalista Jorge Félix, um dos maiores especialistas brasileiros no tema. Professor do curso de Gerontologia da USP, Félix foi o primeiro pesquisador brasileiro a estudar a Economia da Longevidade. O Brasil, segundo ele, está atrasado nas pesquisas (de produtos e serviços para atender essa população) e nas discussões econômicas, sociológicas e antropológicas sobre um país que está envelhecendo a passos largos.
Para definir o que é economia da longevidade, Félix recorre à consultoria inglesa Oxford Economics: é a “soma de toda atividade econômica para atender às necessidades daqueles com mais de 50 anos e incluindo tanto os produtos e serviços que eles consomem diretamente como a atividade econômica que esse gasto possa gerar”. Ele reconhece que o Brasil tem iniciativas aqui e ali, mas elas são esparsas, desconectadas. Reclama que não há uma “política criativa para o envelhecimento”. De Brasília, a única preocupação perceptível sobre o tema em geral estão relacionadas às contas da previdência social. Para complicar mais a nossa já complicada situação, “o Brasil (e todos os países pobres) envelhecerão em um ambiente econômico mundial extremamente hostil. Se no pós-guerra havia um espírito de cooperação, as próximas décadas serão de concorrência insana”, escreve. Em outras palavras, os países pobres - ao contrário dos países do Norte, que já passaram por esse processo - envelhecerão “sem nenhuma possibilidade de ficarem ricos”.
Félix é um crítico de uma frase muito difundida por instituições bilaterais, como o Banco Mundial, de que “os países ricos ficaram ricos antes de envelhecer e os países pobres envelhecerão antes de ficar ricos”. Para ele, a sentença serve de introdução “a um discurso em defesa da redução dos direitos sociais, das reformas nos sistemas de aposentadoria, com clara desvantagem para os trabalhadores de renda mais baixa, sem considerar toda a relação social, histórica, escolhas políticas que construíram a economia sob a qual os países pobres envelhecerão." Em outras palavras, os países ricos envelheceram no pós-guerra com “um amplo pacto (social, financeiro, produtivo e cultural) em nome da democracia e da paz”. Félix recorre à geopolítica e à investigação histórica para concluir que esses mesmos países que ficaram ricos no século XX, estão agora “tirando a escada” na hora dos países pobres subirem de patamar, tudo em nome da concorrência global do século XXI.
Félix é pessimista quanto a nossa capacidade, como país, de aderirmos a essa corrida populacional, na qual os países ricos já estão investindo seus dólares, libras e euros em produtos e serviços para o envelhecimento, “quase todos de alta tecnologia”. Mas ele alerta que ainda podemos parar de enxergar esse fenômeno como uma “bomba-relógio” - sempre pronta a explodir as contas do INSS - para vê-lo como fonte de recursos. Temos uma saída se, diante do envelhecimento da população mundial, entendermos que o que está em disputa entre os países é “quem vai pagar pelo envelhecimento de quem? Os vencedores serão aqueles mais bem-sucedidos na Economia da Longevidade.” É uma questão urgente, não pode ser deixada para amanhã. O jornalista coloca o envelhecimento da população ao lado das mudanças climáticas e do avanço tecnológico como fatores determinantes para o desenvolvimento econômico neste século. “Os países com melhores habilidades para solucionar esse desafio estarão aptos a manter ou alcançar um estágio satisfatório de desenvolvimento. Os perdedores ficarão para trás.”
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