OUT 21, 2021
Maria Tereza Gomes - Época Negócios. Confira matéria original aqui.
A aposentadoria precoce não é mais um plano ideal para nova geração de cinquentões.
(Foto: Getty Images)
Todos nós que chegamos aos 50 nos debatemos com o nosso futuro profissional. Por quanto tempo o mercado ainda vai pagar pelas minhas competências? Por quanto tempo ainda terei disposição para a jornada full-time? Por quanto tempo ainda quero esse rame-rame de fazer todo dia a mesma coisa? Será que tenho poupança suficiente para parar tudo, dar um basta? Dormir sem hora para acordar, tirar férias no contrafluxo, não ter chefes, clientes ou subordinados… Pois outro dia, no podcast Mulheres de 50, entrevistamos uma mulher que já decidiu: não quer parar jamais. Aos 59 anos, Martha Magalhães não sofre com esses dilemas mundanos - ela diz que ama trabalhar e está preparando a sua quarta carreira.
Formada em marketing, primeiro ela foi executiva e chegou a diretora de produtos para América Latina do Citi. Logo depois dos 40, porém, analisando o mercado, detectou que a carreira ali não duraria muito. “Eu me olhei como produto e tive clareza de que logo perderia minha validade”, diz. Então, desceu alguns degraus na hierarquia e recomeçou em algo completamente novo: uma consultoria de recursos humanos. Foi fácil? Claro que não. “Planejei a mudança do ponto de vista financeiro, mas esqueci completamente o psicológico. Chorei muitos meses antes de me adaptar.” A terceira mudança veio quando decidiu empreender - é o que ela ainda faz, mas não por muito mais tempo, pois decidiu fazer uma nova transição, até agora não anunciada.
Depois da entrevista com a Martha, decidi ler o livro “Reinventando-se depois dos 50 anos de idade - Como fazer transição de carreira e carreiras-bônus” (Atlas), de Rafael D’Andrea, que eu comprei por indicação do meu amigo Esteban Ferrari, 50 anos, engenheiro formado pela Poli, outro ex-executivo que virou consultor de carreira e professor, e que está - ele também - preparando mais uma mudança profissional. O livro de Rafael é resultado da pesquisa para o mestrado que ele fez no Insead, em Singapura. Ao entrevistar executivos e empresários de várias nacionalidades, todos com mais de 50, descobriu um fenômeno que ele chama de “carreira-bônus”, que acontece depois da carreira principal. O autor escreve que a aposentadoria precoce não é mais um plano ideal para essa geração de cinquentões. “O novo paradigma desta era é talvez permanecer economicamente ativo o maior tempo possível”, diz Rafael, que atualmente é diretor da Reckitt no México.
A exemplo de Martha, os entrevistados de Rafael buscam um trabalho que traga significado, com rotina flexível e “a emoção de novos desafios, conteúdos e relacionamentos”, mas também querem um pouco de diversão e coerência com seus valores. “Todas as pessoas que participaram dos meus estudos demonstraram um elevado autoconhecimento e um alto nível de motivação sobre o que não queriam para si. Também demonstram ter convicção sobre seus objetivos”, escreve o executivo. A essa altura do campeonato, nós, os desavisados e imprudentes que entramos nos 50 sem nos prepararmos para a “carreira-bônus”, estamos nos perguntando: por onde começar? O Rafael desenhou um framework “para reinvenção pessoal após os 50 anos”. Está lá no livro, vale a pena comprar e ler com atenção. Já a Martha conta as dores e as delícias de suas várias mudanças lá no podcast. O resto é com você.
*Maria Tereza Gomes é jornalista, mestre em administração de empresas pela FEA-USP, CEO da Jabuticaba Conteúdo e mediadora do podcast “Mulheres de 50”
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